Helena Ferreira
Aquilo que nos interessou apresentar neste trabalho, foi um conjunto de indagações acerca das possibilidades imagéticas que ocorrem quando nos confrontamos com uma imagem que surge segundo uma ou mais projecções. O espelho não é aqui considerado como um elemento de questionamente sobre a identidade do sujeito. O espelho não se encontra, sequer, posicionado de forma a que o observador se veja reflectido.
O que é apresentado na superfície especular é um conjunto de imagens projectadas que apenas surge ao espectador quando este se coloca num determinado ponto de vista em relação ao espelho. Assim, a imagem reflectida “encaixa” nos espaços, transparentes ou em branco, do espelho, que por sua vez apresenta imagens projectadas. O espaço especular ganha, assim, alguma coerência, embora também uma certa estranheza. O espectador, posicionado num determinado ponto de vista, fica diante do confronto entre todas as projecções, directas e diferidas, especulares e videográficas, que compõem a instalação e que se encontram em tensão sobre uma superfície plana – o espelho.
Quando falamos de projecção, neste trabalho, referimo-nos a três possibilidades distintas: 1) uma imagem projectada, segundo um foco luminoso; 2) uma imagem reflectida através de uma superfície especular; 3) e uma imagem percepcionada do conjunto das duas primeiras, de acordo com um determinado ponto de vista. No primeiro exemplo, escolhemos uma imagem em movimento do mecanismo interior de um relógio e que representa o fascínio do tempo. No segundo, a imagem reflectida é uma fotografia do casal enamorado enquanto fazem um jogo de sombras, também elas projectadas, num outro tempo. Por último, a percepção de todas as imagens numa só superfície, depende da mobilização do espectador para um local especifico, de forma a “fixar” as imagens evasivas, anteriormente referidas, no espelho.
O espelho funciona neste trabalho como um canal-prótese que, segundo Umberto Eco, produz uma imagem especular que revela a presença de informações não disponíveis num primeiro contacto visual directo. Por exemplo, a imagem reflectida, colocada dentro do armário, apenas pode ser vista reflectida no espelho se o espectador se colocar numa determinada posição em relação ao mesmo, numa espécie de encontro anamórfico com a obra.
Lisboa, 1986.
Vive e trabalha em Lisboa. Frequenta o mestrado em Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa onde elabora uma tese sobre iconografia mariana. Licenciou-se em Pintura na FBAUL em 2009 e, no mesmo ano, esteve em Turim como bolseira Erasmus. Ana Rebordão desenvolve vídeos onde se apropria de imagens religiosas e as transforma, num movimento muito lento, em narrativas visuais. A artista filtra as pinturas originais e tenta traduzir descobertas internas operadas nos Santos representados. Se o catolicismo é alheado destas obras, já o sagrado e o espiritual as permeiam abundantemente. Realizou peças site-specific para o interior de Igrejas e Museus históricos em Portugal e Itália, participou em exposições colectivas e foi seleccionada para a 6ª edição do Prémio Anteciparte.